Erguido entre
as tradicionais e centenárias palmeiras, o Terço Gigante chama a atenção dos
milhares de fiéis que anualmente, por ocasião da Festa da Penha visitam o Convento, principal marco religioso católico do Espírito Santo.
A imagem de Nossa Senhora (foto) vinda de Portugal,
em 1570, mostra NOSSA SENHORA DA PENHA DE
FRANÇA, que foi encontrada na Serra de França, situada na Espanha, próximo a
Salamanca, no século XV. Local de origem do espanhol Pedro Palácios.
Irmão Leigo
(sem ordens), “Frei” Pedro Palácios, era ligado aos Capuchinhos na Custódia
Portuguesa da Arrábida, onde os religiosos se consagravam à penitência e ao
eremitério.
Nossa Senhora
da Penha de França, na verdade, está relacionada às PENAS (sofrimentos) de Nossa
Senhora: profecia de Simeão, fuga para o Egito, perda de Jesus no Templo, morte
de seu filho na cruz, sepultamento de Jesus. Até os anos 1980, em cada curva da
estrada velha do Convento, conhecida como “Ladeira da Penitência”, existia uma
cruz pintada de azul, e, em cada uma delas, estava escrita uma das PENAS de
Nossa Senhora.
A versão de
“Penha” como “pedra”, se deve às escarpas íngremes da Serra de França, local na
Espanha, onde Carlos Magno combateu e deteve o avanço dos mouros na Europa.
O painel com
Nossa Senhora dos Prazeres, ou Nossa Senhora das Alegrias, trazido por
Palácios, em 1558, é a pintura mais antiga exposta ao público nas Américas.
Contrasta com a imagem vinda de Portugal, doze anos depois, para a primeira
Festa da Penha, em 1570, que se refere aos sofrimentos de Nossa Senhora.
A primeira
romaria de devotos aconteceu em 1573, promovida por dois jesuítas que escaparam
de um naufrágio.
FESTA DA
PENHA
A Festa da Penha é a festa religiosa
mais tradicional das Américas. Acontece há 446 anos, desde 1570. Falhou apenas
dois anos (1938/39), proibida na fase mais negra da ditadura de Getúlio Vargas.
Quando Frei Pedro Palácios chegou ao
Espírito Santo (1558), conventos gozavam de enorme prestígio. Dois anos antes,
Carlos V, o maior líder político do mundo naquele tempo, Imperador do Sacro
Império Romano, havia abdicado em favor de seu irmão e filhos. Viúvo retirou-se
da vida pública, ingressando num convento.
Para celebrar a primeira festa, Pedro
Palácios mandou buscar em Portugal a imagem de Nossa Senhora da Penha, ainda
venerada no altar-mor. Em uma caixa chegaram a cabeça, as mãos e o Menino
Jesus. O frade improvisou o corpo com madeira da mata e pôs-lhe vestido e
manta.
Em 1653, o Menino foi levado por
saqueadores holandeses. Só voltou ao colo da Mãe após entendimento com
Pernambuco, local onde foi abandonado pelos sequestradores.
As principais obras, conferindo à
igreja imponência de castelo, foram realizadas do séc. XVII ao XIX, a expensas
do fluminense Salvador Correa de Sá e Benevides. Em 1652, ele fez doação de
“ordinária anual de trinta cabeças de gado”, mantida por seus descendentes até
1846. Em agradecimento, o Prelado-Mor da Bahia concedeu-lhe e aos descendentes
o título de “Padroeiros Venturosos do Convento”. Durante quase 200 anos os
festejos da Penha só começavam com a chegada da Romaria de Campos, vinda por
mar.
O Convento alcançou o aspecto atual no
princípio do séc. XX, quando ganhou (após tombamento pelo Iphan) a grande
chaminé da fachada norte.
O altar-mor, em mármore de Carrara, foi
benefício do paulista Cícero Bastos ao genro, governador Jerônimo Monteiro,
autor do “Veto da Penha” (vetou, em decorrência da Constituição Republicana que
separou a Igreja do Estado, uma ajuda financeira ao Convento, aprovada na
Assembleia Legislativa e apoiada pelo povo). A decisão foi dificílima, deu
falatório. O Bispo do Espírito Santo era seu irmão e conselheiro.
Na preparação do altar para a
inauguração (1910), a família do governador tomou para si o encargo. Quando
foram arrumar a imagem de Nossa Senhora da Penha, viram que ela estava careca.
Havia sobre sua cabeça apenas lenço e coroa. Uma cabeleira foi providenciada:
cortaram as tranças de uma das sobrinhas do governador. A menina chorou, mas
foi consolada pela babá que garantiu: “Não chore minha fia. Você deu o cabelo,
ela lhe dará boa cabeça.”
A menina era Maria Stella de Novaes,
nossa cientista maior, historiadora, escritora, educadora, pintora e iniciadora
de Augusto Ruschi nos mistérios das orquídeas, o que o levou aos (polinizadores)
beija-flores e daí à ecologia.
São diferentes os motivos que conduzem
ao Convento da Penha. Prevalece o espírito religioso buscando um lugar para
orar. Alguns sobem o morro para apreciar belas paisagens; outros buscam
referências geográficas para facilitar seus movimentos nas cidades próximas.
Estudiosos e curiosos apreciam a arquitetura, as esculturas e as pinturas.
Entre as pinturas destaca-se “N. S. das
Alegrias”, tela que há mais tempo está exposta ao público nas Américas.
Provavelmente obra do Mestre de Santa Auta (Portugal), trazida por Pedro
Palácios em 1558.
A Festa da “Virgem de Guadalupe”,
padroeira do México e da América Latina (1945, só foi instituída em 12 de
dezembro de 1754, embora a imagem da “Virgem de Guadalupe”, milagrosamente
estampada (vários especialistas afirmam não ser uma pintura) sobre poncho de
tilma (tecido frágil feito com fibras de agave), tenha sido apresentada ao
Bispo, em 1531, pelo índio São Juan Diego, proclamado santo por João Paulo II.
Desde 1570 comemoramos a Festa da
Penha. Ela é a festa cristã pioneira da América.
Kleber Galveas, pintor Tel. (27) 3244 7115 www.galveas.com ateliê@galveas.com abril/2016